terça-feira, novembro 08, 2011

Matthew Barney no Estoril (2011)

Matthew Barney (1967), Drawing Restraint 17, Suiça, 2010

O "Lisbon & Estoril Film Festival" vai possibilitar, amanhã, dia 9 de Novembro, a visualização de Drawing Restraint 17 (2010), Blood of Two (2009), de Matthew Barney e de Sekhem - Khu (Prologue) (2010), de Matthew Barney e Jonathan Bepler. Matthew Barney estará presente, para aquilo que em linguagem do festival se chama uma "Masterclass". Amanhã, no Centro de Congressos do Estoril, a partir das 21:30. O festival permite muitos outros contactos com obras e criadores contemporâneos, pelo que a consulta do programa será de grande utilidade. Destaco a sessão especial dedicada a Jean-Marie Straub (hoje, a partir das 22 horas, no cinema Nimas) e as Leituras no Museu de História Natural e da Ciência, que reúnem Don DeLillo, Paul Auster, Siri Hustvedt e J.M. Coetzee (dia 10, a partir das 18 horas).

Dois avisos: é conveniente confirmar o programa e a presença do artista norte-americano com a organização; a aula de amanhã mantém-se nos termos, horário e local habituais.

Jean-Marie Straub (1933), L'inconsolable, França, 2011

segunda-feira, outubro 10, 2011

Ano lectivo de 2011-2012

Salette Tavares (1922-1994), Aranha, tipografia, 40 cm. x 40 cm., 1963

Mas tão distanciados estamos pela imitação que aquilo que ouvimos nos vem tão sem som como se fosse uma visão que fosse tão invisível como se estivesse nas trevas que estas são tão compactas que as mãos são inúteis. Porque mesmo a compreensão a pessoa imitava. A compreensão que nunca fora feita senão da linguagem alheia e de palavras.
Mas restava a desobediência.
Então - através do grande pulo de um crime - há duas semanas ele se arriscara a não ter nenhuma garantia, e passara a não compreender.
E sob o sol amarelo, sentado numa pedra, sem a menor garantia - o homem agora se rejubilava como se não compreender fosse uma criação. Essa cautela que uma pessoa tem de transformar a coisa em algo comparável e então abordável, e, só a partir desse momento de segurança, olha e se permite ver porque felizmente já será tarde demais para não compreender - essa precaução Martim perdera. E não compreender estava de súbito lhe dando o mundo inteiro.
Clarice Lispector (1920-1977), A Maçã no Escuro, s.l., Relógio D'Água Editores, s.d., pág. 35

O curso "A Arte Moderna" irá funcionar de 10 de Outubro de 2011 a 15 de Fevereiro de 2012, entre as 21 e as 23 horas, no Ar.Co da Rua de Santiago, nº 18, em Lisboa. Corresponde a 64 horas lectivas - 100 créditos.

Recomenda-se a comparência na primeira aula, para apresentação do curso, da bibliografia e dos participantes. Também se recomenda a familiarização com o "blog": consulte-se, para começar, a versão "online" da bibliografia, sem comentários mas incluindo obras entretanto retiradas da versão em papel e uma lista de referências acessíveis através da internet. A etiqueta "bibliografia", na barra lateral de "links", reúne textos e apoio bibliográfico referentes a questões particulares abordadas ao longo do curso. A etiqueta "semestre" reúne, entre outras, entradas que apresentam o curso no início de um novo ano lectivo.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Suspensão - mas à coca

Reconstitução da experiência perspéctica de Brunelleschi (1377-1446) em Florença, c. 1416

O sujeito brunelleschiano espreita por detrás para ver a frente, através do espelho furado que reflecte mas que também é atravessado pelo olhar, conjugando, o espelho, nesse trabalho de reflexão e atravessamento (de suspensão, já que, permitindo ser atravessado, aceita, nesse buraco, deixar de ser espelho), o mundo da realidade quotidiana com o mundo da imagem. Imagem que representa: o referente e a sua imagem estão de um e do outro lado do espelho - pelo buraco vê-se o baptistério, enquanto no espelho se reflecte a imagem (a imagem da imagem, uma vez que a imagem do espelho é o reflexo da imagem pictórica) pintada que representa esse mesmo edifício. Bem avisava Panofsky, em 1927: "A perspectiva é, por natureza, uma espada de dois gumes".

O cá e o lá das imagens, o por cima do suporte e o por detrás - e a expulsão mental desse suporte, trazendo a ficção das imagens para o lado de cá da realidade quotidiana - como se não existisse suporte, como se um quadro fosse uma janela e não um lençol esticado, um miradouro e não um limite. E a recuperação desse suporte como um limite inultrapassável, uma matéria não mais passível de ser excluída das imagens que não podem deixar de se tornar objectos. Num mundo cada vez mais tornado imagem. Da tela de costas das "Meninas" (1656) de Velázquez para a "Olympia" (1863) de Manet, reclinada num espaço discretamente bidimensional. Pôr tinta na tela que está no cavalete, atirar tinta para a tela que está no chão, atirar coisas para o chão.

E por detrás das imagens há buracos mais fundos que os da perspectiva - e a perspectiva já era um jogo complexo entre um para lá fictício da imagem no quadro-janela e o por detrás do suporte, entre o mundo de cá (à frente e atrás do quadro, antes e depois dele) e o mundo da imagem.

O "blog" da Arte Moderna hiberna, mas, por vezes, mexe. Mantenham-se atentos. A acção transfere-se para o "blog" dos Cruzamentos.

Alfred Hitchcock (1899-1980), Psycho, 1960, fotograma