Maerten Boelema de Stomme, "Natureza Morta", séc. XVII, óleo sobre tela, 73 x 96 cm, Musées Royaux des Beaux-Arts, Brussels.
Os objectos fascinam, conferem estatuto, são perecíveis e temporários - cheios de orgulho, de poder e de melancolia.
Edouard Manet, La Brioche, 1870, óleo sobre tela, The Metropolitan Museum of Art, New York.
Os objectos seduzem: apelam ao observador, para que os use (a faca pede-nos que cortemos o brioche - ou pede o brioche através da faca). E essa sedução é, aqui, feminina, feita de flores e rendas e caixinhas (uma Olímpia sobre o panejamento branco, macia como os pêssegos). Em Manet são, frequentemente, objectos de algum luxo: espargos, ostras - que confirmam um estatuto social, pelo gosto e o custo. O objecto é mercadoria e o consumo insinua-se como valor.
Tom Wesselmann, Bedroom Painting No. 13, 1969, óleo sobre tela, 148 x 163 cm., Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz-Nationalglerie, Berlin.
O consumo triunfou como valor cultural e social. Mesmo o humano é reduzido a mercadoria - contraponto da humanização dos objectos e da "coisificação" das relações e das qualidades abstractas (como em Marx e nos marxistas). Do retrato dos objectos para o corpo (humano) como natureza-morta.
BIBLIOGRAFIA:
Benjamin, W., A Modernidade, Lisboa, Assírio & Alvim, [no prelo].
Bryson, Norman, Looking at the Overlooked: Four Essays on Still Life Painting, Harvard University Press, 1990.
Clark, T. J., The Painting of Modern Life: Paris in the Art of Manet and His Followers, New York, Knopf, 1985.
Schama, Simon, The Embarrassment of Riches: An Interpretation of Dutch Culture in the Golden Age, New York, Knopf, 1987.
Novos "LINKS": Medieval Wall Painting e Ciudad de la Pintura, ambos em "Imagens". O último inclui obras pictóricas da pré-História à actualidade.
Em "Recursos": World Civilizations, da Washington State University, guia de textos e imagens muito generalista, incluindo civilizações antigas, não-europeias, actividades não artísticas (alguns "links", no entanto, já não funcionam).
segunda-feira, janeiro 30, 2006
Objectos & Mercadorias, S.A.
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2 comentários:
Se é verdade que os objectos representados - desde a ostra a um pedaço de corpo - conferem estatuto e/ou seduzem, se é verdade que o objecto é mercadoria e que o consumo se insinua como valor não será também verdade que há uma espécie de encenação quase sádica desses objectos enquanto promessas que não se cumprem e que não são senão uma espécie de oferta de um ménu sem a subsequente refeição de ostras? Se é que se foge à frugal refeição do quotidiano a comtemplar esses quadros ou um filme ou qualquer desses objectos (em si mesmo de consumo)?
Promessas que se quebram são já (ou também) esse apelo ao consumo?
Sim, também a "Arte" será mercadoria: esse é o centro da história que Argán conta na sua L'Arte Moderna - como é que a arte vai lidar com a transfromação dos objectos em mercadorias, sendo ela (a arte) uma criadora de objectos? O que é que distingue um objecto da indústria de um objecto artístico? O que é que distingue o mercado da arte dos outros mercados? No extremo: nada distingue e a arte infiltra-se no mais banal dos objectos (utopia dos produtivistas/construtuvistas soviéticos e do design até aos anos de 1970) / a arte mantém-se como último reduto, como território específico (no mesmo período, e ambiguamente, o Suprematismo). Pop/minimalismo, Koons/Clemente...
O lado pessimista: a arte está moribunda, porque é incompatível com a civilização industrial.
Se há sadismo na Arte? Acho que sim - também. Tanto como violência na interpretação (ideia heideggeriana). O desejo é força importante na arte e na mercadoria - e no humano. É o motor do capitalismo contemporâneo - e o motor do anti-capitalismo de Deleuze e Guattari. E o inimigo do budismo.
Mas saliento que estamos, nesta série de naturezas-mortas (em Manet isso parece-me claro), a ver os objectos (que, no "Antigo Regime" eram criaturas de Deus e/ou o resultado do trabalho e da inteligência dos homens) tornarem-se mercadorias, fracturados em "valor de uso" e "valor de troca" (Marx), com aquele a ser relegado para segundo plano e com este a só ser possível numa cultura em que tudo é intercambiável (e, no fundo, tudo é igual a tudo), perdendo-se especificidades, o que é insubstituível, etc. A Democracia é a irmã e a ideologia e o território do Capitalismo.
O mais importante: os objectos nem sempre foram mercadorias.
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