O sujeito brunelleschiano espreita por detrás para ver a frente, através do espelho furado que reflecte mas que também é atravessado pelo olhar, conjugando, o espelho, nesse trabalho de reflexão e atravessamento (de suspensão, já que, permitindo ser atravessado, aceita, nesse buraco, deixar de ser espelho), o mundo da realidade quotidiana com o mundo da imagem. Imagem que representa: o referente e a sua imagem estão de um e do outro lado do espelho - pelo buraco vê-se o baptistério, enquanto no espelho se reflecte a imagem (a imagem da imagem, uma vez que a imagem do espelho é o reflexo da imagem pictórica) pintada que representa esse mesmo edifício. Bem avisava Panofsky, em 1927: "A perspectiva é, por natureza, uma espada de dois gumes".
O cá e o lá das imagens, o por cima do suporte e o por detrás - e a expulsão mental desse suporte, trazendo a ficção das imagens para o lado de cá da realidade quotidiana - como se não existisse suporte, como se um quadro fosse uma janela e não um lençol esticado, um miradouro e não um limite. E a recuperação desse suporte como um limite inultrapassável, uma matéria não mais passível de ser excluída das imagens que não podem deixar de se tornar objectos. Num mundo cada vez mais tornado imagem. Da tela de costas das "Meninas" (1656) de Velázquez para a "Olympia" (1863) de Manet, reclinada num espaço discretamente bidimensional. Pôr tinta na tela que está no cavalete, atirar tinta para a tela que está no chão, atirar coisas para o chão.
E por detrás das imagens há buracos mais fundos que os da perspectiva - e a perspectiva já era um jogo complexo entre um para lá fictício da imagem no quadro-janela e o por detrás do suporte, entre o mundo de cá (à frente e atrás do quadro, antes e depois dele) e o mundo da imagem.
O "blog" da Arte Moderna hiberna, mas, por vezes, mexe. Mantenham-se atentos. A acção transfere-se para o "blog" dos Cruzamentos.
O cá e o lá das imagens, o por cima do suporte e o por detrás - e a expulsão mental desse suporte, trazendo a ficção das imagens para o lado de cá da realidade quotidiana - como se não existisse suporte, como se um quadro fosse uma janela e não um lençol esticado, um miradouro e não um limite. E a recuperação desse suporte como um limite inultrapassável, uma matéria não mais passível de ser excluída das imagens que não podem deixar de se tornar objectos. Num mundo cada vez mais tornado imagem. Da tela de costas das "Meninas" (1656) de Velázquez para a "Olympia" (1863) de Manet, reclinada num espaço discretamente bidimensional. Pôr tinta na tela que está no cavalete, atirar tinta para a tela que está no chão, atirar coisas para o chão.
E por detrás das imagens há buracos mais fundos que os da perspectiva - e a perspectiva já era um jogo complexo entre um para lá fictício da imagem no quadro-janela e o por detrás do suporte, entre o mundo de cá (à frente e atrás do quadro, antes e depois dele) e o mundo da imagem.
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